- fredericopereira191
O ciclo de mercado: um conceito imprescindível

A minha iniciativa de escrever sobre ciclo de mercado, um conceito imprescindível, não é à tôa, hoje é 14/04/2020, faz mais ou menos um mês que o Ibovespa atingiu um fundo abaixo de 65 mil pontos, tendo atingido topo nos 120 mil pontos cerca de um mês antes, ou seja, uma queda vertiginosa. Eu preciso lembrar a mim mesmo e a vocês esse conceito, principalmente por ter "relativizado" ele na alta, o que se mostrou um erro, que não pretendo voltar a cometer.
O cara que melhor falou sobre isso, na minha opinião, foi o Howard Marks, o value investor da Oaktree, um dos maiores investidores da atualidade. Ele escreveu um livro "Dominando os ciclos", onde explana sobre os diversos ciclos, sobre como lidar com eles e mais algumas ideias interessantes. No capítulo 12, ele fala do ciclo de mercado, vou aproveitar das ideias dele abaixo.
O ciclo de mercado
Nas palavras do próprio Marks, de forma abrevida:
· Eventos na economia e nos lucros das empresas se tornam cada vez mais positivos.
· Eventos positivos alimentam o otimismo do investidor. A emoção, os chamados "espíritos animais" e a tolerância dos investidores ao risco aumentam com esses eventos positivos (ou às vezes apesar dos negativos).
· O aumento do otimismo faz com que os investidores sejam menos exigentes em termos de proteção a riscos e retorno potencial.
· A combinação de eventos positivos, o fortalecimento do otimismo e a redução dos requisitos de retorno do investidor fazem com que os preços dos ativos subam.
· Eventualmente, no entanto, o processo é revertido. Os eventos não cumprem as expectativas, talvez porque o ambiente que os produz se torne menos hospitaleiro, ou talvez porque as expectativas sejam irrealisticamente altas.
· Os investidores acabam provando que a psicologia não pode permanecer positiva para sempre. Os chefes mais frios concluem que os preços atingiram níveis injustificados ou que a psicologia pode abrandar por um milhão de razões possíveis (ou sem motivo aparente).
· Os preços caem quando os eventos são menos positivos ou passam a ser vistos de maneira menos positiva. Às vezes, isso ocorre simplesmente porque os preços atingiram níveis insustentáveis ou devido a desenvolvimentos negativos no ambiente.
· Tendo caído, os preços dos ativos continuam em declínio até cair tão baixo que o cenário está pronto para sua recuperação.
É importante entender que isso é um resumo pequeno de um movimento de alta e baixa, quando uma termina, a outra começa; ou seja, depois de cair, em algum momento começa a recuperação, que é o início da nova alta, que é onde parece que estamos, o começo da recuperação.
Mais importante ainda, apesar de parecer que esses eventos se repetem, na verdade eles rimam, esses pontos podem ser identificados nos ciclos passados, mas o tempo que leva pra que tudo aconteça nunca é igual ou, pelo menos, regular. Então não dá pra prever e lucrar, apenas se posicionar da melhor forma possível.
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Por que o ciclo de mercado se "repete"?

Como em quase tudo complexo, a tentativa de identificar a causa é improdutiva, mas podemos listar algumas características humanas que parecem estar fortemente ligadas ao ciclo de mercado, Marks lista elas assim:
· a maneira como os investidores flutuam, em vez de se apegar firmemente ao pensamento racional e às decisões racionais resultantes;
· a tendência dos investidores de manter visões distorcidas do que está acontecendo, envolvendo-se em percepção seletiva e interpretação distorcida;
· peculiaridades como o viés de confirmação, que faz as pessoas aceitarem evidências que confirmam sua tese e rejeitam o que não é, e a tendência à utilidade não linear, que faz com que a maioria das pessoas valorize um dólar perdido mais do que um dólar produzido (ou um dólar) lucro potencial perdoado);
· a credulidade que leva os investidores a engolir grandes histórias de potencial de lucro nos bons tempos, e o ceticismo excessivo que os faz rejeitar todas as possibilidades de ganhos nos maus momentos;
· a natureza flutuante da tolerância e aversão ao risco dos investidores e, portanto, de suas demandas por prêmios de risco compensatórios;
· o comportamento do rebanho que resulta da pressão para se alinhar com o que os outros estão fazendo e, como resultado, a dificuldade de manter posições não conformistas;
· o extremo desconforto resultante de ver os outros ganharem dinheiro fazendo algo que você rejeitou;
· assim, a tendência dos investidores que resistiram a uma bolha de ativos, finalmente, escapa à pressão, jogam a toalha e compram (embora - não, porque - o ativo que está sujeito à bolha tenha apreciado substancialmente);
· a tendência correspondente de desistir de investimentos impopulares e mal sucedidos, não importa o quão intelectualmente correto, e;
· finalmente, o fato de investir é tudo sobre dinheiro, que introduz elementos poderosos, como ganância por mais, inveja do dinheiro que outros estão ganhando e medo de perder.
Ou seja, a nossa natureza nos leva a acompanhar a manada e acabar sofrendo junto com a maioria, o que implica na necessidade de "ser do contra" quando se trata de investimentos.
Sendo mais prático e atual, nós deveríamos ter sido mais pessimistas no começo do ano, tomado decisões nesse sentido, o que eu acabei fazendo pouco, não o suficiente; e agora, depois da queda, precisamos inverter a posição, ir contra o pessimismo do consenso e procurar oportunidades.
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O ciclo de alta e o ciclo de baixa

Marks diz que a melhor descrição do ciclo de alta que ele ouviu de um "mentor" na década de 70, que descreveu as 3 etapas desse movimento:
· o primeiro estágio, quando apenas algumas pessoas extraordinariamente perceptivas acreditam que as coisas vão melhorar;
· a segunda etapa, quando a maioria dos investidores percebe que o aprimoramento está realmente ocorrendo;
· o terceiro estágio, quando todos concluírem, as coisas melhorarão para sempre.
Outra forma de lembrar disso é o velho ditado romano: "O que o sábio faz no começo, o tolo faz no final".
Ou seja, quem realmente aproveita o ciclo de alta é quem entra no começo, logo após o ciclo de baixa; é possível pegar do meio pro final também. Então o investidor inteligente procura aproveitar os vários ciclos de alta que verá durante a vida, entrando o mais cedo possível.
O próprio Marks aproveitou essa dinâmica para explicar o que aconteceu em 2008 em um de seus memorandos, apresentando o ciclo de baixa da seguinte forma:
· a primeira etapa, quando apenas alguns investidores pensativos reconhecem que, apesar da alta predominante, as coisas nem sempre são animadoras;
· o segundo estágio, quando a maioria dos investidores reconhece que as coisas estão se deteriorando;
o terceiro estágio, quando todos se convencem as coisas só podem piorar.
Nem preciso dizer que quando o Ibovespa atingiu 65 mil pontos, todo mundo estava vendo o fim do mundo em 2020. A queda que acabamos de ver parece ter cumprido as etapas, acima de 115 mil apareceram os primeiros céticos; quando ficou entre 100 e 110 mil pontos a maioria já estava consciente de que as coisas haviam piorado, quando despencou rápido e perdeu os 70 mil pontos, todo mundo estava olhando pro abismo, alguns caíram.
O ciclos de mercado: o conceito imprescindível
Enfim, parece que tivemos nosso ciclo de baixa, torço para que sim, para que o problema da pandemia seja solucionado nos próximos meses, as notícias positivas estão vindo diariamente. Mas não dá pra cravar que o ciclo de alta começou ou como ele será, então vamos nos posicionar por esperar por ele.
Mais importante do que isso, lembrando de Sócrates, pensando em longo prazo, quero lembrar e usar o conceito de ciclo de mercado, para que no futuro eu me posicione com mais segurança ou intensidade no que acredito ser o estágio do ciclo de mercado em que estivermos.
Espero que vocês façam o mesmo e que nós façamos muito dinheiro ao longo das próximas décadas. Conte comigo no que precisar para fazer isso acontecer, clicando aqui.
Muito obrigado por ler meu texto e boa sorte!